A cirurgia de Daniel ocorreu na Fundação Altino Ventura
(FAV), onde ele estava sendo acompanhado. A vítima, no entanto, está internada
no Hospital da Restauração, em observação.
No mesmo quarto, está o arrumador de contêineres Jonas
Correia de França, de 29 anos, que também foi atingido no olho pelos policiais
militares.
Jonas, nesta segunda, recebeu a confirmação dos médicos da
FAV de que perdeu totalmente a visão do olho direito. Ele segue aguardando que
o olho desinche, para, assim, ser novamente avaliado pelos médicos.
Na quarta-feira (2), ele deve ir até a fundação em jejum, já
que, possivelmente, deverá passar por uma cirurgia.
Os dois trabalhadores sequer estavam no protesto e foram ao
Centro da cidade para trabalhar, quando foram pegos de surpresa pela barricada
dos policiais militares. Abalado, Daniel Campelo se limitou a confirmar que
teve o olho removido. Ao lado dele, Jonas França falou sobre a indignação de
ter sido vítima do estado (veja vídeo acima).
"Só Deus sabe o que eu passei e estou passando. Hoje eu
acordei muito triste, angustiado, porque sou um jovem novo, com saúde,
independente, gosto de trabalhar. Sou muito de família, penso muito nos meus
filhos, e o que vai ser de mim agora? Dos meus filhos e da minha esposa, que
precisam de mim? Não sei nem o que falar, é só o desespero mesmo, de um pai que
corre atrás do sustento da família. Já chorei muito", afirmou o arrumador.
Por meio de nota, a Fundação Altino Ventura afirmou que Jonas
Correia de França foi atendido na emergência da unidade hospitalar, no sábado,
após ser encaminhado pelo Hospital da Restauração. Na primeira consulta, a
vítima sofria com forte dor no olho direito e os médicos identificaram um edema
periocular, além de sangramento intraocular.
Desde então, o paciente vem sendo acompanhado pela equipe da
fundação, mas continua internado no HR, onde é medicado para que o inchaço
diminua. O Hospital da Restauração afirmou, nesta segunda-feira, que ele foi
liberado pelos médicos do hospital, mas seguem no local para observação.
"Lateja muito e está muito inchado. É como se a dor
fosse para o cérebro. Dói muito, muito mesmo. Eu estava voltando do trabalho,
liguei para minha esposa para dizer que ia demorar, por causa do protesto. Eu
cheguei a falar com os policiais, falei que sou pai de família, cristão, e que
não estava no protesto. Tinha até um saco de carne moída na minha bicicleta.
Quando olhei para frente, um policial saiu de trás do outro e atirou",
disse.
A Fundação Altino Ventura afirmou, ainda, que desde o
primeiro dia em que foi atendido, Jonas já tinha um "comprometimento
importante da visão" e novos exames foram feitos nesta segunda-feira. O
paciente deverá retornar ao local na quarta-feira (2).
Até o momento, "nenhuma cirurgia foi indicada para o
caso, mas a conduta pode mudar a partir da evolução do paciente e dos
resultados dos novos exames", disse a nota enviada pela fundação. A outra
vítima, Daniel Campelo, não autorizou a divulgação de boletins de saúde pela
fundação.
Sentindo muitas dores, Jonas Correia de França afirmou que,
até o momento, não foi procurado diretamente por nenhum membro do governo
estadual, a quem a Polícia Militar é subordinada. A esposa dele, Daniela
Barreto de Oliveira, participou de uma reunião com o secretário de Justiça e
Direitos Humanos de Pernambuco, Pedro Eurico, nesta segunda (31).
"Ninguém se pronunciou nem para dizer 'eu estou aqui,
você tem minha solidariedade'. Mesmo que seja mentira. Eu quero que eles [os
policiais] percam a farda, porque policial é para proteger cidadão, não para
espancar. Hoje, meus dois filhos estão com saudade. Minha filha, que dormia
comigo, está sem comer direito. Minha esposa só vive chorando. E agora, como
vai ficar? Já chorei muito, só Deus sabe", declarou Jonas.
Fonte: G1