Quando eu era criança via a chegada das festas juninas como o tempo sem aulas, quando íamos comer canjica, pamonha e assar milho; significava que ia ter fogueiras nas portas das pessoas católicas, e na casa que faltasse fogueira ou era casa de “crente” ou era uma viúva que só fazia sua fogueira no final do mês.
Mesmo as pessoas “crentes” que não faziam fogueira pela religiosidade diferente ou por conta de elementos pagãos que foram incorporados aos festejos, costumavam aproveitar o período para se deliciarem com as comidas próprias do tempo da colheita e ainda para visitarem outras casas dos outros.
Tinha fogueira em pé ou fogueira de ramo, tradição de um tempo em que cortar uma árvore não era “errado”. Nas escolas podia-se fazer as quadrilhas e a gente sabia o real significado delas. Tinha ainda nas comunidades o pau de sebo e o quebra-pote. No quebra-pote era comum um gato com um dinheiro no rabo, também não era violência contra os animais. Se era, de modo geral, as pessoas não se importavam.
Eu era criança e gostava mesmo era de ter uma calça com remendos para dançar quadrilha até o dia clarear (na verdade eu sempre dormia cedo). Até os anos de 1980 a festa popular mais forte na terrinha era o carnaval. Eu não participava e não via graça, não tinha muito a ver comigo ficar pulando prá lá e prá cá, não fora criado assim e nunca me interessei mesmo. Eu me achava estranho porque a maioria dos amigos e amigas iam brincar carnaval.
Eu precisei envelhecer para entender certas coisas, vivências plantadas no tempo que eu era do Sumaré ou da Rosa Benta, as terrinhas menores onde vivi meus primeiros oito anos. Eu era tabaréu, caipira, da roça, e isso me segue a vida toda com imenso orgulho. Só que o mundo me fazia pensar que isso era algum ruim, hoje eu sei que ser da roça tem um valor que nem todo mundo conhece, a vida simples é maravilhosa. A musicalidade e as comidas de junho, também são.
Por Renilton Silva
Calmon Noticias, conectando você com o mundo!