Atirador mirim': clube de tiro é criticado por ensinar crianças a atirar em meio à violência em escolas no país

 

As imagens chamam tanto a atenção que mobilizaram parte da cidade de Jataí, em Goiás. Acompanhadas de instrutores, crianças posam com armas em punho, que parecem desproporcionais às mãos dos alunos, muito pequenos. 

Com postura reta e abafador de barulho nos ouvidos, elas miram e atiram em alvos e, como se participassem de uma gincana, entre um bang bang e outro, percorrem circuitos que mais remetem a uma operação policial do que a qualquer atividade infantil. Recarregam rapidamente as armas, como profissionais. Por fim, os que têm melhor desempenho são condecorados com pódio, medalhas e, sorridentes, registram o momento com uma fotografia ao fim do que parece ser uma competição.

A atividade é oferecida por um clube de tiro, que tem sido alvo de críticas e questionamentos por parte de moradores do município, sobretudo de pais que, desde o fim do ano passado, convivem com o medo desencadeado pela escalada de ataques a escolas pelo país. Somente no ano passado, foram sete ataques a escolas, de acordo com pesquisa da Unicamp, além de dois este ano. 

As cenas de crianças, que aparentam ter no máximo 10 anos, que foram parar nas redes sociais do estabelecimento, colocaram o stand numa situação delicada e foi preciso divulgar uma nota pública. A empresa informou que as pistolas usadas eram de airsoft e que as aulas teriam um objetivo de conscientização acerca desse tipo de equipamento. As armas de airsoft têm aparência muito semelhante à de armas fogo verdadeiras.

Por lei, as pistolas de pressão só podem ser vendidas a maiores de 18 anos e devem ser identificadas na cor laranja fluorescente ou vermelha na extremidade do cano de disparo – como é possível observar nas imagens publicadas pelo stand. No entanto, há brecha na regulamentação no que diz respeito ao manuseio desses equipamentos. Não há hoje, tanto no decreto de armas em vigor, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quanto na portaria do Exército, qualquer item que preveja a proibição de uma criança, menor de 14 anos, de empunhar uma arma de airsoft.

No caso de armas de fogo, a legislação estabelece que jovens a partir de 14 anos podem frequentar clubes de tiro e praticar acompanhados de seus pais e, agora, com a nova gestão do presidente Lula, desde que haja também autorização judicial. É amparada nessa brecha legal que o clube Hunter Jataí, assim como outros pelo Brasil, têm oferecido esse tipo de dinâmica a crianças. "Uma prova de airsoft para nossa futura geração", diz o stand em um dos anúncios, reforçando o que, na opinião de especialistas, é uma cultura armamentista que cresceu durante o governo Jair Bolsonaro. "Atirador mirim!", exalta outro post. Procurados, governo federal e Forças Armadas não comentaram o assunto.

O GLOBO tentou contato com responsáveis pela empresa através do advogado Carlos Henrique do Carmo Silva, que informou que, por enquanto, eles não irão se pronunciar além da nota.

No posicionamento enviado, o clube de tiro afirma que cumpre à risca todas as normas jurídicas e que não permite o exercício de tiro esportivo por pessoas inabilitadas em suas dependências. Mas esclarece que, no dia 1º de abril, "foi realizado um evento recreativo para crianças e adolescentes, onde os pais dos menores fizeram as respectivas inscrições de seus filhos, bem como assinaram termo de autorização" e que "o referido evento consistia em um curso de tiro esportivo e manuseio de arma airsoft (arma de pressão), o que não se confunde com arma de fogo ou simulacro, realizado por instrutores de tiro totalmente habilitados, se valendo de EPIs (equipamentos de proteção individual) para todos os envolvidos, bem como a presença dos pais dos menores".

Segundo o clube, a intenção do evento foi ensinar o manuseio do airsoft, "sobretudo para demonstrar que mesmo a arma de brinquedo tem as suas regras de utilização que devem ser respeitadas para evitar acidentes envolvendo menores, o que é possível de acontecer com qualquer objeto, inclusive, aqueles de uso doméstico". Por fim, a empresa disse repudiar veementemente toda e qualquer prática irregular de tiro esportivo em seu estabelecimento e não comungar "com qualquer ato de ódio ou violência de qualquer natureza".

Debate nas redes
Os comentários das publicações foram deletados e desativados. Em um post fixado, no entanto, é possível notar as opiniões opostas, ainda expostas na rede.

"Absurdo total!", criticou uma seguidora. "Criminosos!", comentou outra. Por outro lado, também há quem defenda os cursos infantis de tiro. "Deixo os parabéns para a empresa por ensinar as crianças a usarem armas, mesmo que as armas sejam apenas de airsoft. Nos EUA por exemplo, em muitos estados já e possível crianças a partir de 6 anos de idade atirarem com armas de fogo reais nos stands", disse um homem. Outra mulher complementou: "Não tem mal algum em diversão, somente aos olhos de quem vê! Adoro o esporte e sei que a empresa é responsável! porque o que realmente está acontecendo em escolas é que os pais não dão educação para seus filhos e acham que a escola é obrigada".

Em outras redes sociais, como o Twitter, usuários também se manifestaram sobre as imagens publicadas pelo clube.

"Em meio a tantas tragédias envolvendo crianças nas escolas, alguns pais do meu país Jataí decidiram por inscrever suas crianças – ATENÇÃO – em um clube de tiros, afinal, toda criança deve saber manusear uma arma de fogo a partir dos 6 anos de idade, né, família?", publicou um morador, indignado.





Fonte: O Globo


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