O outro policial, Anderson de Souza Santana, que é conhecido como Sinho por moradores da rua, estava de folga bebendo no bar. A reportagem teve acesso ao relato da dona do estabelecimento, que era amiga de Sinho, e relatou que ele, soldado da PM, não percebeu que a ação de Marcelo se tratava de uma perseguição policial e acreditou que o bar estava recebendo 'voz de assalto'. Por conta dessa percepção, ele teria reagido e iniciado uma troca de tiros que terminou com os dois mortos.
Ele já entrou falando 'perdeu, perdeu. cadê a arma?'. Se ele entrasse falando 'polícia', se identificando, com certeza Santana (Sinho), meu amigo, jamais iria atirar. Então, acabou que um atirou no outro por conta dessa confusão. Ele [Marcelo] ainda seguiu baleado na moto na garupa com um cara que tinha vindo e caiu só lá no Pau Miúdo", explica ela. A ação ocorreu por volta das 19h30 no bar e, além dos dois policiais militares, deixou o suspeito, que estava usando tornozeleira eletrônica, morto.
O suspeito começou a ser perseguido por Marcelo na Avenida San Martin, quando o PM notou uma ação suspeita do homem dentro de um veículo de modelo Siena de cor branca. Na perseguição, o suspeito e um comparsa bateram no fundo de um ônibus na ladeira do IAPI. Os dois saíram do carro e correram em direção diferentes. Na mala do veículo, um motorista de app foi encontrado. Ele foi colocado ali na ação de roubo dos bandidos.
O comparsa do suspeito que morreu no bar foi alcançado por agentes da Rondesp, que tiveram apoio solicitado, na região da Santa Mônica, onde trocou tiros com a polícia, foi baleado e socorrido ao Hospital Ernesto Simões Filho, mas não resistiu. O primeiro suspeito seguiu em fuga, perseguido pelo PM Marcelo. Quando chegou na Rua Astrozildo Sepúlveda, ele entrou no bar e pediu uma bebida para disfarçar.
"Ele entrou no bar rápido e pediu logo uma bebida. Sinho viu aquilo e já estranhou. Ele perguntou ao meu marido se conhecia o rapaz e ele disse que não, saindo logo do bar ao perceber a situação", relatou a dona do bar. Pouco depois, Marcelo teria chegado ao local correndo e a troca de tiros se iniciou, sem que houvesse tempo para que Sinho abordasse o suspeito. Um morador de um prédio em frente ao bar, que se identifica apenas como Zama, conta que ouviu muitos tiros de casa.
"Estava na frente da televisão e do nada começou os pipocos. Foram mais de dez tiros, com certeza. Na hora que passou, eu desci e vi Sinho e o ladrão no chão do bar. O povo me falou que o outro policial tinha tomado tiro, mas ainda sim saiu do local na moto", conta Zama. Informações de fontes ligadas à polícia apontam que Marcelo, inclusive, teria chegado ao local de moto-táxi. Ele chegou a passar em frente ao bar, mas notou o suspeito no local e voltou para prendê-lo.
Os moradores Rua Astrozildo Sepúlveda lamentaram o falecimento dos dois policiais e, especialmente, Sinho, que costumava beber sempre no local. "Ele sempre estava por aqui, pelo menos três vezes por semana. Era amigo do pessoal do bar e a gente via sempre, mas era uma pessoa muito sossegada. Nunca nem ouvi a voz dele para ser sincera", conta uma comerciante que tem um estabelecimento ao lado do bar onde Sinho foi morto.
"O rapaz era grande, tinha as tatuagens e tinha cara de sério, mas era sossegado. Gente boa, cumprimentava todo mundo. Ele bebia aqui sempre e nunca deu trabalho", fala Zama. O PM Marcelo foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde passou por cirurgia, mas morreu.
A Polícia Militar lamentou as mortes e disse que um inquérito será instaurado e as circunstâncias do ocorrido serão apuradas. “Neste momento, a Polícia Militar acompanha e presta todo apoio às famílias dos policiais militares através do Departamento de Promoção Social (DPS) da Corporação“.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) diz que se solidariza com as famílias dos dois PMs e informa que a Polícia Civil iniciou a investigação coletando depoimentos de testemunhas e buscando possíveis imagens de câmeras da região. Ressalta ainda que as perícias solicitadas ao Departamento de Polícia Técnica (DPT) auxiliarão na apuração da dinâmica do caso.
O caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Os corpos dos dois policiais serão sepultados hoje, no Cemitério Bosque da Paz. Anderson será sepultado às 16h e Marcelo às 17h.
Bar no IAPI foi cenário de troca de tiros. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO |
Por Correio24horas
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