Existe uma crença mística de que o indivíduo bem-sucedido, atraente, saudável, abastado, popular, “iluminado” ou cheio de conquistas – quase toda população se enquadra em algum desses itens – frequentemente atrai energias negativas, maus olhares e atitudes nocivas de pessoas invejosas. E neste afã, para se defender desses “ataques espirituais”, muitos entram numa espécie de paranóia, que desequilibra os sentimentos, emoções e pensamentos da pessoa invejada.
Na verdade, essa cultura em torno da inveja aguça o sentimento de orgulho e arrogância da “vítima”, uma vez que o indivíduo supostamente invejado arroga-se no direito de sentir-se injustiçado, ferido, atacado por pessoas de seu convívio que, a seu ver, “sentem” inveja diante de seus atributos físicos, intelectuais, espirituais e/ou patrimoniais.
Vemos que a comunhão dentro de algumas igrejas cristãs tem sido envenenada por este tipo de cultura/teologia, que gera presunções e julgamentos descabidos, criando inimizades, disputas e rivalidades entre fiéis da comunidade. A ênfase desse discurso falacioso sobre a inveja, com o passar do tempo, mina o espírito de humildade, simplicidade e inocência que deve prevalecer nos círculos cristãos.
Falar sobre a inveja virou febre, moda no Brasil. Não é a toa que gurus espirituais, como o bispo Bruno Leonardo, são colocados em pedestais. Com centenas de vídeos falando sobre a inveja (“oração poderosa contra inveja”, “olha o que a inveja faz”, “cuidado com a inveja”, etc), o líder religioso tem arrebanhado milhões de seguidores cativos, através da disseminação desse tipo de conteúdo.
Não podemos negar que a inveja sempre acompanhou a existência humana. Em todas as épocas e sociedades, como uma erva daninha, ela sempre germinou maliciosamente nas mentes e causou estragos. Todavia, o problema da sociedade atual é dar tanta ênfase no tema, que a inveja virou paranóia na cabeça de muitos, ferramenta aceitável para fazer julgamentos e acusações sem provas, alimento para gerar fofocas e aumentar a vaidade humana.
Por fim, sinceramente, está difícil e embaraçoso elogiar alguém ou sugerir algo com espontaneidade e pureza de coração. Ninguém deseja ser confundido ou mal interpretado por suas palavras, dentro de um cenário social que, ao supervalorizar a ideia da inveja, coloca as pessoas em constante estado de alerta e autodefesa.
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Por Geferson Carvalho
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