No Sertão da Bahia, Piemonte da Chapada, minha terra Canabrava - Por Renilton Silva

Por Renilton Silva

Se você mora ou visita sempre a bela cidade de Miguel Calmon na Bahia, conhece o famoso cruzamento da Rua Ipiranga com a Rua da Areia e já deve ter percebido como ali precisa de um semáforo. 

As pessoas se assustam por não saberem se devem ou não atravessar. Em uma coisa, todos concordam, ficou muito chique aquela área.

Quando o progresso chega, as ruas são asfaltadas, constroem nos morros, tudo vai se transformando. Como seria bom se não destruíssemos tanto. Casarões lindos, derrubados e memórias esmagadas, omitidas, dilaceradas.

São 101 anos de emancipação política do município. Somos de uma terra que já teve tanta coisa: já teve campo de avião, já teve cinema. Templos religiosos já foram de um jeito, deixaram de ser, quase voltaram a ser e se não tivermos cuidado, outros desabarão, também em nome da novidade e do conceito de “conforto”.

O Marabá resiste, o Ginásio Municipal também, algumas casinhas de beira de estrada permanecem. A Estação que era ferroviária, pelo menos ficou, agora é rodoviária. A casa do chefe da Leste que abriga o Conviver, vigia a estação e reclama que tiraram os trilhos.

Trilhos marcados pelos trens e pelas vidas de tantos que viveram em situações diversas. Salve a seca de 1932 e a enchente de 1948. Salve a Rua das Flores que resiste sem tantas flores, mas com gente querida que não arreda o pé... Já sem as fogueiras das noites lindas de São João, afinal, tiraram o Carnaval e carnavalizaram o São João, em nome do povo, pois é o povo que gosta assim.

Mas o povo calmonense não é só a população da cidade. A Serra, a Grota, o Brejo Grande, os Olhos d’Água, a Faísca, o Mucambo dos Negros, o Tanquinho, a Palmeirinha (todos os lugares) também completam 101 anos, produzem vida, cultura, arte e literatura.

A pacífica terra de Padre Paulo Felber é a mesma de Manoel Antônio da Silva. A terra que acolheu Raimundo Dias Irmão é a terra de João Curaçá. A grandeza do armazém de Miguel Isabella é a mesma da encantada venda de João Pires ou do carrinho de pipoca de Seu Vadinho. O Abrigo dos Vicentinos merece ser festejado, a Sociedade XV de Novembro e o Umbuzeiro Clube de Campo também, a Cavalgada e tantos símbolos de resistência.

Salve Lilinha Rios, Helena de Bilí, Doraci Ana, Dona Adelaide, Isaura de Chorrolão, Edite Costa e tantas mulheres, mães, esposas, calmonenses. Salve Carmelo Isabella, Severino Costa, João Velho do Brejo Grande, tantos homens que personificam nossa gente.

Salve o Guanabara, o São Miguel, o Estrela Vermelha, o Farenze, o Vasco e o Bahia do Brejo Grande. Salve Adelmo Miranda e Campeonato da Associações Rurais.

São 101 anos desde que Miguel Calmon deixou de pertencer a Jacobina. Salve Miguel Calmon na Bahia que me acolheu e até hoje não me deixa faltar histórias para contar, imaginando que o progresso chegou e logo teremos uma sinaleira no cruzamento da Ipiranga com a Rua da Areia, o povo para lá e para cá, vendo o tempo e a vida passarem no Sertão da Bahia, Piemonte da Diamantina, minha terra Canabrava.

Renilton Silva calmonense, professor, Mestre em História e Escritor.


Redação Calmon Notícias

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