Carta aberta a Barbara Carine, por Vanessa Neres - Mucambo dos Negros, Miguel Calmon-BA


ITAPURA, CLUBE DE CAMPO ITABIRA CARTA ABERTA: BARBARA CARINE Hoje, 04 de novembro de 2024 no clube de campo Itabira, temos a honra de participar deste momento maravilhoso, eu particularmente ser a porta voz desta correspondência a intelectual diferentona, a professora, doutora e influenciadora digital, Barbara Carine. 

No entanto, não querermos somente nos dirigir à mulher de currículo invejável que nos brinda com a sua presença, mas também a Barbara, filha da dona Terezinha.

 Para começar gostaria de iniciar com o Fragmento de uma História “Conta-se que que um coronel por nome de José Clemente, o qual morava na região de Jacobina, possuía uma grande área de terra denominada Fazenda Corredor... Há cerca de 160 anos chegaram provavelmente de Alagoas, onde os quilombos se organizavam, escravos alforriados ou fugitivos que se amocambaram num vale coberto de tabocal , próximo a fazenda , local este que ficou conhecido como Mocambo dos negros “ Itapura, o entrelaço do passado e do presente , página 12, autoria da professora Dalva Vilaronga .

Entre estas primeiras pessoas que fugiam da escravidão, estava dona Vicência, a matriarca da nossa comunidade Mocambo dos Negros, e você Barbara sendo bisneta desta senhora, que assim como muitos outros negros, escreverão a história do nosso país, tendo como pano de fundo o triste capitulo da escravidão no Brasil.

Oh querida Barbara, como tua presença, em nossa terra é importante, pois representa um novo entrelace do passado (Dona vicência) e de um presente que é você e todos nós. Com certeza herdaste da sua bisavó a coragem, ambas atuando muito afrente do seu tempo. “Sou uma mulher, negra, nordestina, de ascendência materna quilombola, do mucambo dos negros, criada em Salvador, no bairro Fazenda Grande do retiro, onde conheci régua e compasso, para enfrentar e construir o meu mundo. Fragmento do livro “Como ser um educador antirracista”, página 19.

Nossos antepassados quilombolas, se tornam a resistência preta de um país colonial e imperialista, e você Barbara ensina a enfrentar a escravidão velada, que ainda insiste em colocar o povo preto numa condição de inferioridade. Sua mãe mostrou está resistência, quando lhe entregou livros ao invés de uma vassoura. a coragem foi grande, pois quebrou o contexto de servidão moderna, pois a filha da empregada “Mocambeira”pode sim ser doutora.

Em um país de mulheres negras, Maria Felipas, Vicências, Marias de Elias, Cinezas, Joanas, Davinas , que lá atrás enfrentaram a escravidão e o racismos (explícitos e velados) , você, Barbara Carine representa todas elas quando nos ensina que a branquitude e seu modelo de sociedade europeia ainda impõe o paradoxo social, educacional e cultural. O afrodescendente neste sentido precisamos nos posicionar todos os dias, com nossos valores, nosso modo de ser, nossa africanidade .as pessoas não precisam ser brancas, loiros, olhos claros para ter o valor de ser humano. Existe uma única raça humana, pessoas que são amadas criaturas perfeitas do Criador. Somos todos iguais.

O povo do mucambo dos negros celebra em 2024, os noventa anos do distrito de Itapura, com algumas marcas profundas em nossa história, que sempre foi de resistência, desde o racismo e preconceito (terra de macumbeiros, comedores de jaca), a colonização de exploração das nossas riquezas minerais, convertendo os lucros das atividades minerais a sede do município, nos restando a destruição do nosso meio ambiente e adoecimento dos nossos trabalhadores, sendo a maioria negra.

Mas nestes muitos mais de noventa anos de história, ficamos muito felizes com a tua presença na comunidade, itapurense de raízes e de coração, pra contar a tua história, que se confundi com a nossa, o que nos trás a representatividade e nos leva ao auto reconhecimento que tanto precisamos. A África e bela está em nós, nós somos um pedaço da África em terras calmonenses, nós somos quilombolas. 

Cada passo que sua bisavó Vicência trilhou em busca da liberdade, valeu a pena sim, você segue na continuação desta caminhada, pra uma liberdade além da física, mas de pensamento. Continuemos com o Entrelaço do passado. Presente e do nosso futuro. Com Carinho, mocambo dos Negros, itabira, Comunidade quilombola de Itapura Mocambo. 

Por Vanessa Neres - Mucambo dos Negros, 04 de novembro de 2024.


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